Chego e me sento. Na sala, ela
continua a pintar o trio de borboletas desenhadas à mão livre na parede,
próximo à varanda. Eram 7h30 da manhã e parecia que tinham-lhe arrancado a
boca, com tamanho sossego em pleno domingo. Cheguei a imaginar que não
respirava. Mas seus olhos, inquietos, delatavam a agitação da sua alma.
Para iniciar a conversa, após um
par de tempos em silêncio, ela disse: ‘’Sou a junção dos meus ex-amores, dos
dissabores e vitórias as quais conquistei. Sou a dor do amigo, o silêncio do
irmão, a incerteza do futuro. Mas hoje sou o nada; sou a dor da perda e a
amargura da dor”. E me olhou. Analisou-me como se eu fosse um bicho, esperando
alguma palavra de conforto. Prossegui calado. Sabia que explicar pela enésima
vez que não a deixaria seria em vão.