quarta-feira, 30 de janeiro de 2013


Chego e me sento. Na sala, ela continua a pintar o trio de borboletas desenhadas à mão livre na parede, próximo à varanda. Eram 7h30 da manhã e parecia que tinham-lhe arrancado a boca, com tamanho sossego em pleno domingo. Cheguei a imaginar que não respirava. Mas seus olhos, inquietos, delatavam a agitação da sua alma.
Para iniciar a conversa, após um par de tempos em silêncio, ela disse: ‘’Sou a junção dos meus ex-amores, dos dissabores e vitórias as quais conquistei. Sou a dor do amigo, o silêncio do irmão, a incerteza do futuro. Mas hoje sou o nada; sou a dor da perda e a amargura da dor”. E me olhou. Analisou-me como se eu fosse um bicho, esperando alguma palavra de conforto. Prossegui calado. Sabia que explicar pela enésima vez que não a deixaria seria em vão.