segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Em meio ao entardecer repleto de obrigacoes do trabalho, descalcou os pes e resolveu molha-los na agua do mar. O movimento maritimo a deixava mais calma, por mais que a amedrontasse, entre tantas ondas que se quebravam entre si. Nao conseguia entender como o oceano, tao cheio de misterios, a colocava em modo silencioso. Tirou da bolsa vermelha, que costumava chamar de buraco negro devido a tamanha bagunca, uma de suas viciantes barrinhas de cereal e resolveu perder alguns minutos sentada na areia. Em 15 minutos, seus ultimos cinco anos passaram em sua mente. E em um pedaco de papel decidiu escrever. "Ha algum tempo, nao sei bem quando, pensei em voar. Sussurrei nos ouvidos do destino que eu, somente eu, queria escreve-lo. Convenci aos que me criaram, fiz sofrer aquele que me ofereceu seu sobrenome... Dei adeus aos amigos. Bati o pe, me dediquei, nadei contra a mare e consegui. Deixei minhas cobertas, minha parede colorida, meus amores e amantes. Conquistei a confianca do mundo, ao convence-lo de que seria esperta o bastante para desviar os caminhos da solidao. Jurei ser forte e jamais deixar rolar em meu rosto lacrimejos de tristeza. Gritei aos quatro ventos que seria capaz de levantar rochas sem sentir o peso da saudade nos ombros ou, levanta-las mesmo com o peso em meus ombros. Jurei nunca ter meu musculo cardiaco machucado por fotos ou lembrancas. Achava que era quase uma heroina de historias em quadrinhos. Pobre garota! Tao cheia de si. Nada mais era do que uma caricatura qualquer".

Pobre Flor. Em meio ao emaranhado de pensamentos, ela se devidia entre enxugar as lagrimas e escrever as dores. Sem se importar com os que passavam por perto, decidiu deitar na areia para, desssa forma, tentar enganar a saudade e sentir-se em casa. Nada passava. Levantou e decidiu terminar seu raciocinio. "Vivi em meia decada o que nao vivi em vinte anos. Escrevi meu destino, deixei meus amores e amantes, lustrei meu orgulho e voei. Desviei dos caminhos da saudade, trapaceei seu jogo e corri para o desconhecido. Contudo ela eh sagaz. Se faz de torta, de morta, se esconde e te abraca.


Sempre tive dificuldade em seguir padroes. Religiao, moda, regras, pessoas; com o passar do tempo todas as regras de aceitacao da sociedade me entediavam. Entao desde sempre tive plena consciencia de que nunca seria exemplo para ninguem. Eis que a vida me surpreende.